A saúde de cada mulher tem a sua origem na relação mãe-filha, segundo a autora Christiane Northrup.
A mãe é o nosso primeiro e mais potente modelo do feminino. Ela é a primeira experiência de carinho, de sustento, de exemplo de auto-cuidado e nutrição.
As nossas células desenvolveram-se ao ritmo dos batimentos do seu coração, o nosso corpo foi alimentado e criado pelo seu sangue, que estava cheio de substâncias neuroquímicas formadas como resposta aos seus pensamentos, crenças e emoções.
Nesse sentido, nós contemos a nossa mãe e todas as mulheres que nos precederam. Por isso quando nos curamos a nós, curamos a linhagem anterior e futura.
Quando éramos pequenas, olhámos nos olhos da nossa mãe e sentimos as suas reacções. Foi assim que aprendemos as primeiras lições essenciais acerca do nosso valor.
A qualidade de atenção que recebemos quando somos bebés determina uma parte da nossa auto-estima e sentido de propósito na vida.
Quando a mãe não está presente ou desaprova algo (porque não fizemos o que ela queria, por exemplo), sentimo-nos abandonadas, sozinhas, feridas. Se isto acontecer várias vezes, dá origem ao chamado “Movimento de amor interrompido”, segundo o autor Bert Hellinger: a filha coloca uma barreira entre si e a sua mãe para se proteger, repetindo internamente “Já não preciso de ti mãe, eu posso sozinha”. Ao longo da vida, isto traduz-se em não querer pedir ajuda, porque necessitar dos outros recorda-nos do nosso trauma original. No entanto, por trás desta frustração há sempre uma vontade imensa de agradar e ter aprovação da mãe – há sempre um amor imenso para com a mãe.
De facto, não há amor maior do que o amor da mãe. E nenhuma mulher-mãe humana foi desenhada para ser a única fonte de energia que sustenta a vida da sua filha. Ela precisa de apoio e ajuda externa, para si mesma e para a filha.
A mãe deve ser mimada para poder mimar e ensinar isso mesmo à sua filha. As mães mais antigas devem cuidar das mais novas e ser o exemplo, e a sucessão, dessa inter-ajuda; tal como um campo de cultivo precisa de repor matéria orgânica, precisa de arejar o solo, precisa de pousio para poder dar bons e muitos frutos.
Quando as mães não conseguem repor energias e satisfazer as suas necessidades de desenvolvimento pessoal e auto-cuidado (separadamente das necessidades da sua família), haverá sempre desequilíbrios e doenças no sistema que afectam tanto as mães como as filhas. E, normalmente, a doença torna-se a única forma socialmente aceite de parar e satisfazer as suas necessidades de auto-cuidado.
Iremos sempre sentir falta das nossas mães. Elas não são Deus e não puderam dar-nos tudo aquilo que esperámos receber. Elas nunca poderão preencher essa falta que sentimos, embora elas tenham feito todo o possível. Elas são humanas, são mulheres comuns, imperfeitas e limitadas, tal como nós.
Devemos deixar espaço para essa dor e chorá-la, isto é, sermos boas mães para nós mesmas. Se não fizermos um lamento sincero dessa necessidade insatisfeita de cuidado maternal, isso inconscientemente interferirá nas nossas relações causando dor e conflito.
Na verdade, culpar as nossas mães pelos seus defeitos (ou culparmo-nos pelas nossas falhas como mães) é prorrogar o nosso papel de vítimas como mulheres - um papel que nos afasta do nosso poder pessoal e remete para uma sociedade patriarcal doente que nos quer perfeitas, boazinhas, cumpridoras e não quer que cresçamos como mulher adultas e empoderadas.
Como mães, temos de ser sinceras connosco mesmas e, mesmo que tenhamos errado, não serve de nada continuar a sentir culpa. É importante seguirmos em frente de coração aberto.
Sermos autênticas implica um certo grau de ruptura com a linhagem materna que absorveu tanto do patriarcado instalado. Esta ruptura da linhagem materna faz parte do impulso evolutivo de despertar, de empoderamento da mulher jovem que se está a formar. Esta ruptura pode reforçar o vínculo, mas também pode criar conflito em que a própria mãe repudia a filha porque sente o seu afastamento como uma ameaça pessoal. Sobretudo as mães que foram privadas do seu poder, podem usar as suas filhas como fonte de alimento e despejo dos seus problemas.
Não podemos sacrificar a nossa felicidade pela das nossas mães porque isso estanca o processo de cura da linhagem materna. E devemos lembrarmo-nos que rejeitarmos as crenças patriarcais que recebemos das nossas mães não significa rejeitarmos as nossas mães enquanto mães.
É também importante que deixemos que as nossas mães sejam seres individuais, porque isso liberta-nos como filhas para sermos seres individuais também. As duas (mãe e filha) são soberanas e não rivais - a competitividade e o princípio de escassez promovido pelo patriarcado acaba por esgotar o poder de ambas.
Segundo Bert Hellinger, as duas leis básicas de pertença e hierarquia são sumamente importantes de seguir porque é importante que o amor tenha uma ordem e que cada elemento da família ocupe o seu lugar: eu ocupo o meu lugar de filha; a mãe ocupa o seu lugar de mãe. Ela dá, eu recebo. Esta é a ordem natural. Invertê-la é retirarmo-nos do nosso lugar na árvore familiar. Por exemplo, uma criança que quer salvar a sua mãe não consegue ver a grandeza dela como mulher adulta, vê-a como incapaz. Como a ama imenso e tem medo por ela, inverte o seu papel de filha para ser mãe da mãe. Este amor é cego e é motivado pelo medo e debilita as relações familiares e a saúde de ambas.
Devemos deixar que as nossas mães, filhas, e o mundo inteiro, façam o seu caminho; e deixarmos de nos sacrificar pelos outros porque não temos de curar o mundo, mas apenas a nós próprias. Só assim recuperamos o nosso poder pessoal e devolvemos aos nossos familiares o seu poder para seguirem o seu próprio caminho.
(Sílvia Morais)
“O preço de sermos autênticas nunca é tão alto como o de vivermos um falso eu” R. O’ Donnell
“Quando te peço que me escutas e tu começas a dar-me conselhos, não fizeste o que te pedi. Quando te peço que escutes e tu começas a dizer porque não devia sentir-me assim, não respeitas os meus sentimentos. Quando te peço que me escutes e tu sentes o dever de fazer algo para resolver o meu problema, não respondes às minhas necessidades. Escuta-me! Todo o que te peço é que me escutes, não que fales, nem que faças. Só que me escutes. Aconselhar é fácil. Mas eu não sou um incapaz. Talvez esteja desanimado ou em dificuldades, mas não sou um inútil. Quando fazes por mim aquilo que eu mesmo poderia fazer, não fazes mais do que contribuir para a minha insegurança. Mas quando aceitas, simplesmente, que o que eu sinto me pertence, mesmo que seja irracional, então não tenho de tentar fazer-me compreender, mas começar a descobrir o que há dentro de mim.” R. O’ Donnell
"Carregamos o peso da nossa mãe, por isso é necessário curar a ferida Mãe-Filha, quer tenhas a tua mãe viva ou não, para assim poderes curar a ferida profunda da tua natureza feminina. A chave é que tu mesma te convertas numa boa mãe para ti. Com essa ideia em mente, assume a tarefa de seres maternal contigo mesma." Maureen Murdock
"A verdadeira terapia termina conectando a pessoa com a sua mãe." Bert Hellinger
"Como trato a minha mãe é como a vida me trata a mim." Bert Hellinger
"Se queres ter a saúde, a alegria e a liberdade que mereces, deves viajar às origens da tua consciência como mulher. Deves estar disposta a beber naquele lugar da terra onde brotou o teu sangue vital, o relacionamento com a tua mãe e a tua linhagem materna. Quando fizeres isso, provavelmente acabarás a chorar. Mas cada lágrima te ajudará a curar." Christiane Northrup
Texto escrito por Sílvia Morais com base em textos, livros e artigos de várias autoras e autores como: Bethany Webster, Bert Hellinger, Christiane Northrup, Maureen Murdock e Ximena Nohemi.
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