(Artigo de Opinião) Yogaterapia

Yogateria é uma designação recente se enquadrada na história milenar do Yoga em si, não se sabendo em rigor com quem e quando terá ocorrido. Fontes apócrifas atribuem a inauguração do termo a Svāmi Kuvalayānanda a meio da primeira metade do século XX. Teria surgido no contexto da sua tentativa em conduzir um estudo sistemático e científico de práticas do Yoga, que levaram à fundação do Kaivalyadhama Health and Yoga Research Center, em Loṇāvaḷā, Índia. Posteriormente, a partir das décadas de 70 e 80, o termo ganha enorme visibilidade com a abordagem terapêutica preconizada pro B.K.S. Iyengar e seus acólitos. Seja como for, dificilmente se conseguirá situar ao certo a origem do cunho Yogaterapia, crendo-se que tenha surgido do encontro da Índia com o Ocidente e posterior proliferação do Yoga nos Estados Unidos e Europa, a partir da metade do século passado.

Como quase tudo no Yoga histórico e actual, a definição de Yogaterapia depende da escola, seita ou sub-cultura em que se enquadra. Não existem por isso uma definição ou formalização unânimes. Resultado da globalização e hibridização cultural do Yoga, numa economia de mercado onde tanta receita gera, é comum encontrarmos inúmeras interpretações daquilo que será a Yogaterapia. A despeito dessa realidade, seria um tremendo “próximo passo” uniformizar tanto quanto possível um conceito e estrutura formal daquilo que será a Yogaterapia, naturalmente enquadrada na ideia de Yoga enquanto Ciência Contemplativa e procurando validação Cientifica Experimental na medida do possível e do sensato.

Por enquanto, poderíamos dizer que genericamente a Yogaterapia, lança mão de uma série de técnicas terapeuticamente enquadradas como: dieta; ética; disciplina; exercício físico e alinhamento postural; gestos diafragmáticos; respiração condicionada; concentração e meditação. Todas estes “instrumentos terapêuticos”, ocorrem fundamentados por um corpo teórico que deriva de experiência contemplativa, subjectiva, e tem sido transmitido por tradição oral e escrita. Portanto, até ver, a maioria não se compadece com um enquadramento cientifica objectivo – contrariando o que o mainstream frequentemente preconiza.

Se nos inspirarmos em Stobbaerts, autor de Reflexão sobre o Yoga, e considerarmos dois níveis de prática de Yoga, um inicial com valência terapêutica e outro posterior com valência soteriológica, então a Yogaterapia corresponderia a esse primeiro nível. Seria então o conjunto de premissas teóricas e práticas específicas, das quais se lançaria mão para agir terapeuticamente sobre o indivíduo. Lembremos que a palavra “terapia” vem do Latim, therapīa, por sua vez trazido do Grego Clássico, therapeia, todas remetendo para a ideia de “curar”, “sarar”, ou as acções de "prestar cuidados médicos” e “tratar determinada doença”. Neste enquadramento o Yoga teria a função de lidar com o mauestar ou dor, física e psicologicamente. Seria uma acção terapêutica mundana para, em seguida e eventualmente, abordar como “terapia” existencial.

Esta visão parece-nos fazer sentido na medida em que actualmente estaremos demasiado entupidos para entráramos a eito no Yoga soteriológico, sendo a Yogaterapia quase um pré-requisito. É frequente carregarmos tantos e tão densos detritos físicos e psicológicos, que só fara sentido entrar em caminhos mais profundos do Yoga depois de limpar minimente a casa. Com efeito, determinadas técnicas do Yoga nem sequer devem ser empregues se não houver essa preparação prévia, sobe risco de serem mais lesivas do que benéficas.

Do mesmo modo, também devem ser respeitados aqueles que pretendem enveredar pelo Yoga sem que queiram abordar questões metafisica sou existências, procurando “apenas” o bem-estar que a prática lhes possa trazer. Sendo irrelevante se fica aquém, na medida em que interessa salvaguardar o respeito próprio. Sem pressas ou indulgências, cada qual com seu caminho e a seu tempo. É por esta razão que muitos professores e terapeutas do Yoga, preconizam a sua prática em íntima associação ao Āyurveda, a medicina tradicional indiana, não enveredando tanto pelas “filosofias” e metafisicas”. A verdade, parece, é que normalmente uma porta abre para a outra…

Em suma, diríamos que o tema da Yogaterapia é de todo interessante e merecedor de uma atenção de Contemplativos e Cientistas. Pois, concatenando o melhor de cada área de conhecimento, de modo honesto e sistematizado, poderia construir-se como um sistema terapêutico assaz válido para os dias de hoje e futuro.

 

Joel Machado

 

(Postura Invertida executada com pendor terapêutico | Foto/Créditos: Joel Machado)

 

#joelmachado #yogaemistica #yoga #psicologia #psicologiadoyoga #soteriologia #yogaterapia #terapia