(Artigo de Reflexão) nyama | न्यम | disciplina

Nyama, sânscrito, diz respeito à Disciplina, sendo Observância um termo igualmente abalizador do conceito. Na Tradição e Literatura do Yoga, os nyama-s consistem num conjunto de regras de conduta interna, de disciplinas perante o próprio. Acopladas aos yama-s, princípios éticos, no Yogasūtra-s Patañjali enumera e define cinco observâncias que funcionam como um todo integrado e em íntima relação com a conduta Ética: śauca ou higiene, saṃtoṣa ou contentamento; tapas ou ardor; svādhyāya ou estudo; e īśvarapraṇidhāna ou devoção ao Supremo.

Śauca diz respeito à higiene física e mental, portanto, engloba procedimentos que visem esse propósito. A sanidade física começa-se na alimentação. Segundo o Yoga, somos literalmente aquilo que comemos, chegando ao cúmulo de se denominar o corpo físico como annamayakośa que quer dizer “feito de alimento”. Então, a alimentação deve ser criteriosa atendendo à estrutura básica do sujeito, época do ano e circunstâncias específicas. Apesar da dieta vegetariana ser amplamente indicada, não deve ser uma imposição. O ideal é que se chegue ao vegetarianismo lógica e naturalmente, ao invés de o impor ao corpo, a bem de um ideal do ego. As limpezas internas do corpo, sobretudo do tracto gastro-intestinal, enquadram-se no preceito śauca, como por exemplos as kriyā-s, “acções de purificação”, bem como desparasitações. No fundo, estamos a falar de preceitos que faziam parte da agenda dos antigos e se perderam. Mentalmente há que ter em consideração a nosso relação com o potencial hábito de nutrir pensamentos negativos, que inoculam toxicidade à mente e ao físico, saneando ao contrariá-los com ideias positivas.

Saṃtoṣa traduz a satisfação que devemos nutrir, constantemente, pelo simples facto de vivermos, é como a alegria lhana dos franciscanos por exemplo. Algo que muitas vezes não fazemos, pelo que tendemos a ver mais o que não temos do que aquilo que temos. Sem contentamento, não há plataforma de evolução espiritual. O desejo de possuir traz ansiedade, o contentamento traz paz.

Tapas  recebe usualmente uma série de definições, nem sempre confluentes. Os textos clássicos fala em tapas como sendo austeridade e ascese. Adaptando aos dias de hoje, diríamos que “ardor” será uma tradução capaz, no sentido em que nos referimos a tapas como uma espécie de fogo ou paixão espiritual, um combustível que nos faz andar. De facto, para a pessoa colher frutos espirituais tem que ter uma espécie de “paixão” despegada. Isto é, um fogo interno que a motiva nessa direcção, suplantando os obstáculos. A contemplação não é fácil, é preciso esforço, é preciso tapas.

Svādhyāya correspnde ao estudo das Escrituras: preceitos, teoria e técnicas contemplativas. Pode também ter-se como um estudo interior, com base no pressuposto anterior. Como avançar espiritualmente se não tivermos consciência da nossa sombra, ignorando os nossos padrões insalubres de comportamento e percepção? Svādhyāya acarreta então uma certa psicologização: estudar a nossa estrutura de personalidade, para desenterrar as motivações inconscientes que estruturam a nossa conduta repetitiva para, ultimamente, desconstruir o auto-conceito, cessando a identificação com o mesmo.

Finalmente, īśvarapraṇidhāna corresponde à ininterrupta devoção a Deus ou ao Campo Unificado, como lhe queiramos chamar. Quando a pessoa dedica cada acto, cada infinitésimo de existência “individual” ao bem maior ou a algo que vai além dos seus limites pessoais, isso é agir em īśvarapraṇidhāna. Indo à terminologia de Ekchart Tolle, passa por percepcionar com gratidão desapegada, cultivando continuamente o estado de Presença.


Joel Machado

 


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