(Artigo de Reflexão) yamanyama | यमन्यम | ética e disciplina

Yama, do sânscrito, representa a Ética e normalmente ocorre juntamente com nyama, a Disciplina. Patañjali, Tantra, Haṭha, esta díade é uma constante ao longo da Tradição e Literatura do Yoga porque representa o pilar de qualquer prática contemplativa. Notemos como ocorre igualmente em outras Tradições Espirituais: por exemplo, os dez mandamentos que Moisés recebe por Influxo Divino e, posteriormente, transmite aos Judeus enquanto guias de conduta, a seguir com reverência.

A Ética ou yama era um ponto de partida no Yoga, tão elementar, que muitos textos nem sequer a apresentavam por se considerar óbvio. O processo de avaliação de um aspirante assentava, frequentemente, numa avaliação ética, sujeitando-o a tarefas ou dilemas nesse particular. Em função da resposta, seria aceite ou não a receber ensinamentos. A Disciplina ou nyama investia-se de igual importância. O corpo sendo a nave tem que estar afinado. O que acontece ao carro com os injectores entupidos ou os travões gastos? Traz problemas! Ao corpo aplica-se o mesmo princípio. A prática começa no domínio físico, pois o aparelho psíquico, sua produção mental e emocional, dependem da qualidade da homeostasia corporal. De Juvenal, em Latim, mens sana in corpore sano. Através da Ética “purificamos” e refinamos pensamentos, decantando a perversão. Através da Disciplina procedemos similarmente com relação ao corpo físico e ambiente ao redor.

Yama garantiria a predisposição idónea do discípulo, nyama os requisitos físico-mentais indicadores da capacidade de suportar as duras técnicas do Yoga. Não deixa por isso de ser impressionante que esta díade tenha sido posta a deslado ou até desaparecido dos “cardápios” actuais do Yoga. Indo mais longe, fará sentido denominar Yoga qualquer sistema que não parta desta díade?

Segundo Patañjali, e o comentador Vyāsa, os frutos de yamanyama são terrenos e extraterrenos. Mesmo que seja um engodo “pedagógico” para induzir à prática (“pela boca morre o peixe”) ou mera mitologia, apresenta-se frequentemente a aquisição de portentos mediante a prática contemplativa. O segundo capítulo do Yogasūtra-s, sādhanapāda, enuncia os que derivam da prática de yamanyama. Na presença da pessoa erigida da não-violência (ahiṃsā), a hostilidade dos circunstantes e interlocutores desaparece: o monge que medita incólume entre tigres selvagens! Quando o discurso se alicerça na veracidade (satya), a palavra adquire o poder de concretizar a potência em realidade. A riqueza material incomensurável consagra o praticante que é completo em honestidade (asteya): a sorte acontece, mas também se “constrói”. Quem dominar a continência (brahmacarya), adquire poderes sobrenaturais: como a capacidade de miniaturização. Estabelecendo-se o sujeito no total desprendimento (aparigraha), adquire o conhecimento das razões pelas quais o ciclo de renascimentos ocorre. A higienização contemplativa (śauca) leva à aquisição de desapego em relação aos corpos do próprio e de outrem, bem como o controlo total do aparelho psíquico, o que redunda no conhecimento do Si Transcendental ou ātma. Através do contentamento inequívoco (saṃtoṣa), conquista-se a Felicidade Incondicional. Praticando com ardor (tapas) atinge-se a perfeição física e psíquica, dominando poderes como miniaturização, clariaudiência, clarividência, entre outros. O estudo interior com base nas escrituras (svādhyāya), veicula a fusão com a divindade escolhida: pode ocorrer a ligação a espíritos “benfazejos” ou deidades. Em virtude da completa entrega a Deus, ou Campo Unificado (īśvarapraṇidhāna), desperta-se para a perfeição do samādhi: dedicando todos os pensamentos e acções ao Supremo, a pessoa Ilumina-se.

Não vamos afirmar ou negar, sugerimos apenas que a pessoa experimente para ver o que realmente sucede…

 

Joel Machado

 


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