O “Método Iyengar” e a polémica das ancas lesionadas

Recentemente, tem vindo a terreiro a polémica questão dos praticantes séniores do “Método Iyengar” que desenvolveram artrite na articulação da anca, em alguns casos tendo que proceder à substituição (protésica) total da anca.

Para alguns é o sinal de que o “Método Iyengar” afinal não presta, para outros que simplesmente deve ser criticamente analisado.

Numa intervenção (https://www.facebook.com/notes/leslie-kaminoff/a-post-iyengar-reimagining-of-alignment-in-asana/10214168957871215/) a tomar nota, que até visa promover um dos seus cursos, o afamado Leslie Kaminoff aborda esta questão, referindo-se colateralmente ao caso (http://yogadork.com/2017/12/01/the-splits-jill-miller-on-her-total-hip-replacement-and-saying-goodbye-to-certain-yoga-poses/) de uma célebre instrutora, Jill Miller, fundadora de um eventual derivado de Yoga (https://www.tuneupfitness.com/), que poderá marginalmente ser associada ao “Método Iyengar”.

Irei então opinar enquanto praticante do tal “Método Iyengar”. As aspas porque não me revejo um afiliado a qualquer escola, seita ou metodologia estanque, mas simplesmente um estudioso e praticante de Yoga.

Em “acordo” com a linha de pensamento do Leslie Kaminoff diria que: (1) De facto, o método deve ser adaptado ao corpo e nunca o contrário (a menos que o método, em si, preveja a miríade de variações e particularidades anatómicas, oferecendo opções específicas a cada caso); (2) Ou seja, o perigo de ser “mais papista que o papa” pode levar a consequências desastrosas, e isso é um problema que diz respeito não só aos fanáticos do alinhamento, mas a todos os pseudo-praticantes (de todas as escolas e métodos) que confundem o “meio” com o “fim”, isto é, um mero auxiliar (aṅga) do Yoga com o Yoga-objectivo em si. Com efeito, se o praticante nota que o seu corpo “grita” ao aplicar-lhe um certo alinhamento, então deve aplicar princípios matriciais ao Yoga, como Satya (honestidade), Ahiṃsā (não violência), entre outros, e rever o modo de abordar a postura. Portanto, remeterá para a consciência individual do praticante e o seu bom senso questionar o que lhe é transmitido, algo que muitas vezes parece faltar.

Em "desacordo" com o mesmo: (1) Se calhar é mais sensato fazer uma análise estatística de quantos praticantes de Iyengar (particularmente, seniores) tiveram problemas nas ancas e sob que circunstâncias; Ou seja, tentar perceber se outros factores poderão ter influenciado esse desfecho; Só praticavam āsana, horas a fio, descurando os restantes aṅga-s como muitas vezes acontece? Padeceriam de outros factores potencialmente despoletadores, alheios à prática? Muita coisa se poderia averiguar, devidamente e honestamente operacionalizada, um bom desafio que merece ser abraçado. (2) Mais um aspecto, a partir do momento em que o Yoga atingiu o estatuto de profissão, logo sujeito a uma economia de mercado baseada no lucro, portanto, na competição e não na cooperação, é perfeitamente expectável que o “A” lance críticas mais ou menos cáusticas ao “B”. As críticas são fundamentais, interessa no entanto que essas sejam devidamente fundamentadas, e positivamente colocadas, para que haja continuidade na evolução (milenar) do Yoga e não sabotagem com vista a ter-se mais lucro ou atenção que os “concorrentes”. No Yoga devemos cooperar e não competir, pelo menos, é essa a interpretação eu faço.

Fique claro, esta reflexão não pretende criticar directa ou veladamente o Leslie Kaminoff (cuja pessoa não conheço, mas o trabalho já li e apreciei, tendo me ajudado) ou defender o “Método Iyengar”, nem vice-versa. É simplesmente um discorrer de ideias, que vem de questões que levantei a mim próprio e que também vi emergir em colegas-praticantes do Yoga.



Joel Machado
 

 

 

(Light on Yoga de B.K.S. Iyengar | Foto:Joel Machado)


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